quarta-feira, 3 de março de 2021

Português - Professora Mônica - 3ºTB (4ª semana)

 

Convite para entrar na sala do Classroom – Professora Mônica – Português /Inglês

 

3ºTB: https://classroom.google.com/c/Mjg0NDkyNjQ4NTU3?cjc=fjdhcuu

 

Atividade – 3ºTB

https://docs.google.com/forms/d/1-xqAG9Ng3t1Er-fjmZlbuMek0V0BNyBrjMyv3PTCIbY/viewform?gxids=7628&edit_requested=true

 

A dialogicidade da linguagem verbal

 

É comum, quando se está lendo um texto, de repente parecer que foi encontrado outro texto dentro do primeiro. Algumas vezes identificam-se trechos inteiros de textos que são conhecidos, outras vezes os trechos não estão lá claramente, com todas as letras, mas são reconhecidos os seus sentidos, identificadas suas referências. Isso se deve a uma característica fundamental da linguagem verbal e dos textos, que é a dialogicidade. Ela nada mais é que a constante e permanente relação que os textos estabelecem entre si. Essa relação pode acontecer:

• por causa do assunto de que os textos tratam – que pode ser o mesmo;

• por causa do modo como dizem o que têm a dizer – que pode ser semelhante;

• porque concordam com o que já disse um texto anterior, por isso o trazem para dentro do que se escreve, reproduzindo trechos ou imitando seu formato e sua estrutura, por exemplo;

• porque discordam do que outro texto escrito antes dele disse.

 

De qualquer modo, os textos se relacionam, e isso pode se tornar mais ou menos perceptível para um leitor, dependendo da estratégia utilizada pelo autor ao escrever. Quando essa relação acontece apenas com o conteúdo, pode ficar mais difícil para o leitor perceber, pois ele precisa conhecer o texto anterior, ter familiaridade com ele para reconhecê-lo. Mas, quando essa relação ocorre no nível do texto, quer dizer, quando o anterior é trazido para dentro do texto que está sendo lido, a situação é diferente, pois fica mais fácil de o texto anterior ser identificado.

Por outro lado, também é preciso que o leitor conheça esse texto anterior ou não será possível reconhecê-lo.

Quando se fala em conteúdo de um texto, a referência é o assunto de que trata, as ideias que contém e que são nele apresentadas. Quando se fala no modo de dizer o conteúdo, atenta-se para a forma que um texto assume, que compreende a sua organização interna, sua estrutura.

Por exemplo, a forma de um poema é a sua organização por meio de versos e estrofes. Um conto, por outro lado, organiza-se em texto corrido, como se costuma dizer, sem divisões em versos e estrofes.

No entanto, ambos os textos – o poema e o conto – podem tratar do mesmo tema, do mesmo conteúdo, como uma desilusão amorosa ou um encontro de amor.

Preparando-se para a atividade

Você fará, agora, um estudo que exigirá a leitura do poema No meio do caminho, do autor brasileiro de renome Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

Carlos Drummond de Andrade: um grande escritor brasileiro Drummond é um dos maiores poetas do modernismo brasileiro. Mineiro de Itabira, publicou seus primeiros artigos no Diário de Minas, em 1921, e teve como uma de suas primeiras investidas na literatura a publicação do conto Joaquim do telhado, com o qual venceu o Concurso da Novela Mineira em 1922. Logo depois, em 1925, fundou A revista, que acolhia os escritores modernistas e divulgava o movimento.

Modernismo brasileiro

 

Movimento que nasceu do desejo de artistas de concretizarem uma arte que fosse genuinamente brasileira, que valorizasse as características nacionais, respeitando-as e abandonando as influências europeias. Havia a vontade de mostrar na arte – fosse na literatura, na pintura, na escultura, na música – o Brasil real, sem romantizá-lo, retratando o povo como ele era, morador das favelas, sofredor, marginalizado. A Semana de Arte Moderna, que aconteceu em 1922, foi o momento culminante do modernismo brasileiro. No entanto, muitas obras produzidas antes dela foram criando o contexto para que o movimento acontecesse. A obra Os sertões (1902), de Euclides da Cunha, que retrata a Guerra de Canudos, por exemplo, foi uma delas, com uma temática nacionalista.

Chegou a ser professor em Itabira, mas sua vida estava mesmo reservada para a poesia. Em 1928, publicou No meio do caminho, na Revista de Antropofagia de São Paulo (SP), causando um grande impacto na crítica pela repetição presente no poema e pelo emprego de tinha em vez de havia.

Desde essa data, não parou mais de escrever, aventurando-se também pela prosa.

Tornou-se um poeta bastante popular, pois sua poesia era facilmente compreendida pelo público. Sua observação do cotidiano permitia que retratasse as pessoas com sensibilidade, ironia e humor, além de certa dose de pessimismo diante da vida.

Drummond faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1987, exatamente doze dias depois da morte de sua filha, a também escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.

Uma curiosidade muito importante para esse estudo. Na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, está exposta uma estátua do poeta

Carlos Drummond desde 30 de outubro de 2002. Foi uma homenagem que a cidade resolveu prestar a ele – que lá viveu boa parte de sua vida – pelo centenário do seu nascimento.

Criada pelo artista plástico Léo Santana, a escultura reproduz uma fotografia feita por Rogério Reis em 1983, publicada na revista Veja, que mostra o poeta sentado num banco da praia de Copacabana. É, hoje, um dos monumentos mais visitados da cidade. Infelizmente, no entanto, a estátua sofre constantes depredações.

https://www.google.com/search?q=FOTO+DE+DRUMMOND+SENTADO+NO+RIO+DE+JANEIRO&tbm=isch&ved=2ahUKEwjogYKsj5LvAhWiA7kGHZM9CNsQ2-cCegQIABAA&oq=FOTO+DE+DRUMMOND+SENTADO+NO+RIO+DE+JANEIRO&gs_lcp=CgNpbWcQAzoECAAQHjoGCAAQCBAeULpQWNd2YN16aABwAHgAgAGqA4gBpDqSAQswLjIuMTEuMTAuMpgBAKABAaoBC2d3cy13aXotaW1nwAEB&sclient=img&ei=_3M-YKiGK6KH5OUPk_ug2A0

 

Para terminar, uma síntese:

Encerrando o estudo da intertextualidade, é importante salientar alguns aspectos:

• A intertextualidade é um fenômeno que não acontece exclusivamente em função da forma, pois toda alteração relativa a esse aspecto tem implicações nos sentidos que os textos passam a ter.

• A intertextualidade só é reconhecida pelo leitor quando ele tenta compreender o texto. Assim, se ele não conseguir conhecer os intertextos, talvez não tenha como estabelecer as relações necessárias e, dessa maneira, não poderá interpretar o texto tal como pretendido pelo autor. Nesse caso, muito provavelmente, deixará de perceber nuances de significado no texto, possíveis intenções ocultas do autor, críticas realizadas, efeitos de sentido. A compreensão poderá ser, portanto, mais superficial.

 

• Todo texto, quando incorporado a outro, leva para dentro desse outro seus sentidos. Mas não apenas eles: leva também seus valores, seus preconceitos, as crenças que representa, suas sofisticações, delicadezas, credibilidade. Transporta tudo o que a ele está articulado. Por isso, o poema de cordel faria toda a diferença no inquérito: se este fosse organizado como poesia, perderia a objetividade, a imparcialidade, o compromisso com o real e com a verdade, porque o cordel é ficção. Esse processo –

não tão complexo assim – é denominado por alguns teóricos interdiscursividade.

Para concluir, é possível afirmar que intertextualidade e interdiscursividade andam sempre juntas. Isso porque, quando se leva um texto para o interior de outro, é inevitável que os valores desse outro também o acompanhem. No entanto, é fundamental realizar uma leitura atenta, pois é fácil identificar dentro de um texto o trecho de outro texto que já é seu antigo conhecido. O difícil é detectar possíveis alterações de sentido que podem ocorrer no texto-base por causa da inclusão desse trecho. Isso nem sempre é percebido pelo leitor.

Embora não se trate da inclusão de um texto em outro, mas da organização do texto na forma típica de um gênero diferente, pode-se retomar o que aconteceu com o inquérito em forma de cordel: o leitor (a Corregedoria da Polícia Civil) entendeu que essa organização poderia prejudicar a credibilidade do trabalho realizado e, por isso, desqualificou o texto, solicitando que fosse refeito.

Assim é um texto: tudo o que ele contém mostra os valores nos quais está baseado, nos quais a opinião do autor se fundamenta, explicitamente ou não. Se você não enxergar essas pistas, vai perder a oportunidade de compreender o texto além da superfície e pode “comprar gato por lebre”: achar que, só porque está escrito com um português correto, é um texto ético, respeitoso. E isso pode não ser verdade.

A intertextualidade é um recurso que pode ser utilizado em um texto. E a interdiscursividade decorrente dessa intertextualidade consegue ser reveladora dos reais valores que sustentam as ideias que o texto apresenta.



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