Convite para entrar na sala do Classroom – Professora Mônica
– Português /Inglês
3ºTB: https://classroom.google.com/c/Mjg0NDkyNjQ4NTU3?cjc=fjdhcuu
Atividade – 3ºTB
A dialogicidade da
linguagem verbal
É comum, quando se está lendo um
texto, de repente parecer que foi encontrado outro texto dentro do primeiro.
Algumas vezes identificam-se trechos inteiros de textos que são conhecidos,
outras vezes os trechos não estão lá claramente, com todas as letras, mas são
reconhecidos os seus sentidos, identificadas suas referências. Isso se deve a
uma característica fundamental da linguagem verbal e dos textos, que é a
dialogicidade. Ela nada mais é que a constante e permanente relação que os
textos estabelecem entre si. Essa relação pode acontecer:
• por causa do assunto de que os
textos tratam – que pode ser o mesmo;
• por causa do modo como dizem o
que têm a dizer – que pode ser semelhante;
• porque concordam com o que já
disse um texto anterior, por isso o trazem para dentro do que se escreve,
reproduzindo trechos ou imitando seu formato e sua estrutura, por exemplo;
• porque discordam do que outro
texto escrito antes dele disse.
De qualquer modo, os textos se
relacionam, e isso pode se tornar mais ou menos perceptível para um leitor,
dependendo da estratégia utilizada pelo autor ao escrever. Quando essa relação
acontece apenas com o conteúdo, pode ficar mais difícil para o leitor perceber,
pois ele precisa conhecer o texto anterior, ter familiaridade com ele para
reconhecê-lo. Mas, quando essa relação ocorre no nível do texto, quer dizer,
quando o anterior é trazido para dentro do texto que está sendo lido, a
situação é diferente, pois fica mais fácil de o texto anterior ser identificado.
Por outro lado, também é preciso
que o leitor conheça esse texto anterior ou não será possível reconhecê-lo.
Quando se fala em conteúdo de um
texto, a referência é o assunto de que trata, as ideias que contém e que são
nele apresentadas. Quando se fala no modo de dizer o conteúdo, atenta-se para a
forma que um texto assume, que compreende a sua organização interna, sua
estrutura.
Por exemplo, a forma de um poema
é a sua organização por meio de versos e estrofes. Um conto, por outro lado,
organiza-se em texto corrido, como se costuma dizer, sem divisões em versos e
estrofes.
No entanto, ambos os textos – o
poema e o conto – podem tratar do mesmo tema, do mesmo conteúdo, como uma
desilusão amorosa ou um encontro de amor.
Preparando-se para a atividade
Você fará, agora, um estudo que
exigirá a leitura do poema No meio do caminho, do autor brasileiro de renome
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).
Carlos Drummond de Andrade: um
grande escritor brasileiro Drummond é um dos maiores poetas do modernismo brasileiro.
Mineiro de Itabira, publicou seus primeiros artigos no Diário de Minas, em
1921, e teve como uma de suas primeiras investidas na literatura a publicação
do conto Joaquim do telhado, com o qual venceu o Concurso da Novela Mineira em
1922. Logo depois, em 1925, fundou A revista, que acolhia os escritores
modernistas e divulgava o movimento.
Modernismo
brasileiro
Movimento que nasceu do desejo de
artistas de concretizarem uma arte que fosse genuinamente brasileira, que
valorizasse as características nacionais, respeitando-as e abandonando as
influências europeias. Havia a vontade de mostrar na arte – fosse na
literatura, na pintura, na escultura, na música – o Brasil real, sem
romantizá-lo, retratando o povo como ele era, morador das favelas, sofredor,
marginalizado. A Semana de Arte Moderna, que aconteceu em 1922, foi o momento
culminante do modernismo brasileiro. No entanto, muitas obras produzidas antes
dela foram criando o contexto para que o movimento acontecesse. A obra Os
sertões (1902), de Euclides da Cunha, que retrata a Guerra de Canudos, por
exemplo, foi uma delas, com uma temática nacionalista.
Chegou a ser professor em
Itabira, mas sua vida estava mesmo reservada para a poesia. Em 1928, publicou
No meio do caminho, na Revista de Antropofagia de São Paulo (SP), causando um
grande impacto na crítica pela repetição presente no poema e pelo emprego de
tinha em vez de havia.
Desde essa data, não parou mais
de escrever, aventurando-se também pela prosa.
Tornou-se um poeta bastante
popular, pois sua poesia era facilmente compreendida pelo público. Sua
observação do cotidiano permitia que retratasse as pessoas com sensibilidade,
ironia e humor, além de certa dose de pessimismo diante da vida.
Drummond faleceu no Rio de
Janeiro (RJ), em 1987, exatamente doze dias depois da morte de sua filha, a
também escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.
Uma curiosidade
muito importante para esse estudo. Na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro,
está exposta uma estátua do poeta
Carlos Drummond desde 30 de outubro
de 2002. Foi uma homenagem que a cidade resolveu prestar a ele – que lá viveu
boa parte de sua vida – pelo centenário do seu nascimento.
Criada pelo artista plástico Léo
Santana, a escultura reproduz uma fotografia feita por Rogério Reis em 1983,
publicada na revista Veja, que mostra o poeta sentado num banco da praia de
Copacabana. É, hoje, um dos monumentos mais visitados da cidade. Infelizmente,
no entanto, a estátua sofre constantes depredações.
Para terminar, uma síntese:
Encerrando o estudo da intertextualidade, é importante
salientar alguns aspectos:
• A intertextualidade é um fenômeno que não acontece
exclusivamente em função da forma, pois toda alteração relativa a esse aspecto
tem implicações nos sentidos que os textos passam a ter.
• A intertextualidade só é reconhecida pelo leitor quando ele
tenta compreender o texto. Assim, se ele não conseguir conhecer os intertextos,
talvez não tenha como estabelecer as relações necessárias e, dessa maneira, não
poderá interpretar o texto tal como pretendido pelo autor. Nesse caso, muito
provavelmente, deixará de perceber nuances de significado no texto, possíveis
intenções ocultas do autor, críticas realizadas, efeitos de sentido. A
compreensão poderá ser, portanto, mais superficial.
• Todo texto, quando incorporado a outro, leva para dentro
desse outro seus sentidos. Mas não apenas eles: leva também seus valores, seus
preconceitos, as crenças que representa, suas sofisticações, delicadezas,
credibilidade. Transporta tudo o que a ele está articulado. Por isso, o poema
de cordel faria toda a diferença no inquérito: se este fosse organizado como
poesia, perderia a objetividade, a imparcialidade, o compromisso com o real e
com a verdade, porque o cordel é ficção. Esse processo –
não tão complexo assim – é denominado por alguns teóricos
interdiscursividade.
Para concluir, é possível afirmar que intertextualidade e
interdiscursividade andam sempre juntas. Isso porque, quando se leva um texto
para o interior de outro, é inevitável que os valores desse outro também o
acompanhem. No entanto, é fundamental realizar uma leitura atenta, pois é fácil
identificar dentro de um texto o trecho de outro texto que já é seu antigo
conhecido. O difícil é detectar possíveis alterações de sentido que podem
ocorrer no texto-base por causa da inclusão desse trecho. Isso nem sempre é
percebido pelo leitor.
Embora não se trate da inclusão de um texto em outro, mas da
organização do texto na forma típica de um gênero diferente, pode-se retomar o
que aconteceu com o inquérito em forma de cordel: o leitor (a Corregedoria da
Polícia Civil) entendeu que essa organização poderia prejudicar a credibilidade
do trabalho realizado e, por isso, desqualificou o texto, solicitando que fosse
refeito.
Assim é um texto: tudo o que ele contém mostra os valores nos
quais está baseado, nos quais a opinião do autor se fundamenta, explicitamente
ou não. Se você não enxergar essas pistas, vai perder a oportunidade de
compreender o texto além da superfície e pode “comprar gato por lebre”: achar
que, só porque está escrito com um português correto, é um texto ético,
respeitoso. E isso pode não ser verdade.
A intertextualidade é um recurso que pode ser utilizado em um
texto. E a interdiscursividade decorrente dessa intertextualidade consegue ser
reveladora dos reais valores que sustentam as ideias que o texto apresenta.
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