Atividade de Língua Portuguesa – 5° semana
Professor: Elmo de Melo
Público alvo: 2ª e 2B
Período: 10/03 a 17/03/2021
Enviar para: ep.melo@yahoo.com.br
Leia o texto abaixo para responder as
questões.
CAPÍTULO XIII - MUDANÇA DE VIDA
(...) Pelo hábito de frequentar a
igreja tomara conhecimento e travara , , estreita amizade com um pequeno
sacristão' que, digamos de passagem, era tão boa peça como ele; apenas se
encontravam limitavam-se a trocar olhares significativos enquanto o amigo
andava ocupado no serviço da igreja; assim, porém, que se acabavam as missas, e
que saiam as verdadeiras beatas°, reuniam-se os dois, e começavam a contar suas
diabruras mais recentes, travando o plano de mil outras novas. Por
complacência, ou antes por prova de decidida amizade, o companheiro confiava ao
nosso gazeador um caniço, e faziam juntos o serviço e as maroteiras, a mais
pequena que faziam era irem de altar em altar escorropichando' todas as
galhetas°, o que lhes incendeia mais o desejo de traquina, Esta vida durou por
muito tempo; porém afinal já eram as gazetas'. tão repetidas, que o padrinho se
viu forçado a acompanhá-lo outra vez todos os dias para a escola, o que desfez
todos os planos que os dois tinham concertado. O nosso futuro clérigo tinha
muitas vezes pensado em como não lhe seria agradável ver-se revestido como o
seu companheiro de uma batina e uma sobrepeliz", e feito também .cristão,
ter a toda hora à sua disposição quantos caniços quisesse, ter por sua e de seu
amigo toda a igreja, poder nos dias de festa, tornando o turíbulo., afogar em
ondas de fumaça a cara da velha que mais perto lhe ficasse na ocasião da
missa...Oh, Isto era um sonho de venturas. Vendo-se privado, depois que o
padrinho o acompanhava, de gozar parte destes prazeres, como fazia nos dias de
fugida, atearam''-se-lhe os desejos, e começou a confessá-los ao padrinho,
dando a entender que nada havia de que agora gostasse tanto como fosse a
igreja, para
a qual, dizia ele, parecia ter
nascido. Isto foi para o padrinho um alegrão, porque neste gosto recente do
pequeno via furo aos seus projetos.
---- Eu bem
dizia... pensava consigo; não tem dúvida, vou adiante; o rapaz está-me enchendo
as medidas.
Afinal o menino
tornou um dia urna resolução última, e propôs ao padrinho que o fizesse
sacristão.
— Isso seria muito bom, disse
ele, a fim de acostumar-me para quando for padre.
A princípio a ideia
deslumbrou o padrinho, porém mais tarde acudiu-lhe a reflexão, e assentou que
seria rebaixar o menino e comprometer a sua dignidade futura. Afinal, porém,
tantas foram as rogativas'. e argumentos do pequeno, que se viu obrigado a
ceder. O menino tinha nisso duas enormes vantagens, satisfazia seus desejos e
saia da escola, poupando assim as remessas diárias de bolos.
— Está bem, dissera consigo o
padrinho, ele já sabe ler alguma coisa e escrever: deixo-o, para fazer-lhe a
vontade, algum tempo na Sé, para que também tome mais amor àquela vida, e
depois, apenas o vir com o juízo mais assente., hei de ir adiante com a coisa.
Foi em consequência procurar aquele sacristão da Sé que dançara o minuete', na
festa do batizado, que era nada menos do que o pai do sacristãozinho com que o
nosso pequeno travara amizade, para arranjar o afilhado, que não queria outra
igreja que não fosse a Sé. Felizmente pôde ele ser admitido; com a prática que
tivera dos dias de gazeta aprendera pouco mais ou menos todo o cerimonial que é
mister' a um sacristão: ajudar a missa já ele sabia, às outras coisas
aperfeiçoou-se em pouco tempo.
Em poucos dias
aprontou-se, e em uma bela manhã saiu de casa vestido com a competente batina e
sobrepeliz, e foi tomar posse do emprego. Ao vê-lo passar a vizinha dos maus
agouros'. soltou uma exclamação de surpresa a princípio supondo alguma asneira
do compadre; porém reparando, compreendeu o que era, e desatou uma gargalhada.
— E que tal?! ...Deus vos
guarde, Sr. cura, disse fazendo um cumprimento.
O menino lançou-lhe um
olhar de revés, e respondeu entre dentes:
— Eu sou cura, e hei de
te curar...
Era aquilo uma promessa de
vingança.
— Ora dá-se? continuou a
vizinha consigo mesma; aquilo na igreja é um pecado!
Chegou o menino à Sé impando de
contente; parecia-lhe a batina um manto real. Por fortuna houve logo nesse dia
dois batizados e um casamento, e ele teve assim ocasião de entrar no pleno
exercício de suas funções, em que começou revestindo-se da maior gravidade
deste mundo. No outro dia, porém, o negócio começou a mudar de figura, e as
brejeiradas começara.
(Rogativa ; súplica, pedido, prece
Assente; sentar-se, apoiar-se,
firmar-se
Minuete; antiga dança de passo
simples e vagaroso
Mister; cargo ou atividade
profissional, artista, arte
Agouro: Mau presságio)
A primeira foi em uma missa cantada.
Coube ao pequeno o ficar com uma tocha, e ao companheiro o turíbulo ao pé do
altar.
Por infelicidade a vizinha do
compadre, a quem o menino prometera curar, sem pensar no que fazia colocou-se
perto do altar junto aos dois. Assim que a avistou, o novo sacristão disse
algumas palavras a seu companheiro, dando-lhe de olho para a mulher. Daí a
pouco colocaram-se os dois disfarçadamente em distância conveniente, e de
maneira tal que ela ficasse pouco mais ou menos com um deles atrás e outro
adiante. Começaram então os dois uma obra meritória: enquanto um, tendo enchido
o turíbulo de incenso, e balançando-o convenientemente, fazia com que os rolos
de fumaça que se desprendiam fossem bater de cheio na cara da pobre mulher, o
outro com a tocha despeja - va-lhe sobre as costas da mantilha a cada passo
plastradas de cera derretida, olhando disfarçado para o altar. A pobre mulher
exasperou-se, e disse-lhes não sabemos o quê
— Estamos te curando, respondeu o
menino tranquilamente.
Vendo que não tirava partido, quis a
devota mudar de lugar e sair, porém, o aperto era tão grande que o não pôde
fazer, e teve de aturar o suplício até o fim. Acabada a festa, dirigiu-se ao
mestre-de-cerimônias, e fez uma enorme queixa, que custou aos dois uma tremenda
sarabanda. Pouco, porém, se importaram com isso, uma vez que tinham realizado o
seu plano. (...)
ALMEIDA Manuel Antônio de.
Memórias de um Sargento de Milícias. “Mudança de Vida”
1. De acordo com o
texto, o que levou o menino a se manter na igreja?
2.Quais foram os
reais motivos que o levaram a ser sacristão?
3.Que argumentos ele
usou para convencer o padrinho a esse respeito?
4.Assim como em “O
Noviço”, de Martins Pena, também escrito no século
XIX, a obra
“Memórias de um Sargento de Milícias”, aborda questões ligadas à ausência de
valores morais. Selecione um trecho do texto que represente uma situação amoral
e comente sobre ela.
Relembre:
Período simples: é formado a partir de um único
verbo, ou seja, construído por uma oração.
Período Composto: possui mais de uma oração, portanto
construído por mais de um verbo. Devido ao modo como as orações articulam-se
nesse tipo de período, elas podem ser chamadas de orações coordenadas e orações
subordinadas.
5. Releia o primeiro parágrafo e retire dele alguns exemplos de períodos
compostos.
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