quarta-feira, 10 de março de 2021

Português - Professor Elmo - 2ºA 2ºB (5ª semana)

Atividade de Língua Portuguesa – 5° semana

Professor: Elmo de Melo

Público alvo: 2ª e 2B

Período: 10/03 a 17/03/2021

Enviar para: ep.melo@yahoo.com.br

Leia o texto abaixo para responder as questões.

 

CAPÍTULO XIII - MUDANÇA DE VIDA

(...) Pelo hábito de frequentar a igreja tomara conhecimento e travara , , estreita amizade com um pequeno sacristão' que, digamos de passagem, era tão boa peça como ele; apenas se encontravam limitavam-se a trocar olhares significativos enquanto o amigo andava ocupado no serviço da igreja; assim, porém, que se acabavam as missas, e que saiam as verdadeiras beatas°, reuniam-se os dois, e começavam a contar suas diabruras mais recentes, travando o plano de mil outras novas. Por complacência, ou antes por prova de decidida amizade, o companheiro confiava ao nosso gazeador um caniço, e faziam juntos o serviço e as maroteiras, a mais pequena que faziam era irem de altar em altar escorropichando' todas as galhetas°, o que lhes incendeia mais o desejo de traquina, Esta vida durou por muito tempo; porém afinal já eram as gazetas'. tão repetidas, que o padrinho se viu forçado a acompanhá-lo outra vez todos os dias para a escola, o que desfez todos os planos que os dois tinham concertado. O nosso futuro clérigo tinha muitas vezes pensado em como não lhe seria agradável ver-se revestido como o seu companheiro de uma batina e uma sobrepeliz", e feito também .cristão, ter a toda hora à sua disposição quantos caniços quisesse, ter por sua e de seu amigo toda a igreja, poder nos dias de festa, tornando o turíbulo., afogar em ondas de fumaça a cara da velha que mais perto lhe ficasse na ocasião da missa...Oh, Isto era um sonho de venturas. Vendo-se privado, depois que o padrinho o acompanhava, de gozar parte destes prazeres, como fazia nos dias de fugida, atearam''-se-lhe os desejos, e começou a confessá-los ao padrinho, dando a entender que nada havia de que agora gostasse tanto como fosse a igreja, para

 a qual, dizia ele, parecia ter nascido. Isto foi para o padrinho um alegrão, porque neste gosto recente do pequeno via furo aos seus projetos.

   ----   Eu bem dizia... pensava consigo; não tem dúvida, vou adiante; o rapaz está-me enchendo as medidas.

    Afinal o menino tornou um dia urna resolução última, e propôs ao padrinho que o fizesse sacristão.

 — Isso seria muito bom, disse ele, a fim de acostumar-me para quando for padre.

  A princípio a ideia deslumbrou o padrinho, porém mais tarde acudiu-lhe a reflexão, e assentou que seria rebaixar o menino e comprometer a sua dignidade futura. Afinal, porém, tantas foram as rogativas'. e argumentos do pequeno, que se viu obrigado a ceder. O menino tinha nisso duas enormes vantagens, satisfazia seus desejos e saia da escola, poupando assim as remessas diárias de bolos.

 — Está bem, dissera consigo o padrinho, ele já sabe ler alguma coisa e escrever: deixo-o, para fazer-lhe a vontade, algum tempo na Sé, para que também tome mais amor àquela vida, e depois, apenas o vir com o juízo mais assente., hei de ir adiante com a coisa. Foi em consequência procurar aquele sacristão da Sé que dançara o minuete', na festa do batizado, que era nada menos do que o pai do sacristãozinho com que o nosso pequeno travara amizade, para arranjar o afilhado, que não queria outra igreja que não fosse a Sé. Felizmente pôde ele ser admitido; com a prática que tivera dos dias de gazeta aprendera pouco mais ou menos todo o cerimonial que é mister' a um sacristão: ajudar a missa já ele sabia, às outras coisas aperfeiçoou-se em pouco tempo.

   Em poucos dias aprontou-se, e em uma bela manhã saiu de casa vestido com a competente batina e sobrepeliz, e foi tomar posse do emprego. Ao vê-lo passar a vizinha dos maus agouros'. soltou uma exclamação de surpresa a princípio supondo alguma asneira do compadre; porém reparando, compreendeu o que era, e desatou uma gargalhada.

 — E que tal?! ...Deus vos guarde, Sr. cura, disse fazendo um cumprimento.

   O menino lançou-lhe um olhar de revés, e respondeu entre dentes:

  — Eu sou cura, e hei de te curar...

 Era aquilo uma promessa de vingança.

 — Ora dá-se? continuou a vizinha consigo mesma; aquilo na igreja é um pecado!

 Chegou o menino à Sé impando de contente; parecia-lhe a batina um manto real. Por fortuna houve logo nesse dia dois batizados e um casamento, e ele teve assim ocasião de entrar no pleno exercício de suas funções, em que começou revestindo-se da maior gravidade deste mundo. No outro dia, porém, o negócio começou a mudar de figura, e as brejeiradas começara.

 

(Rogativa ; súplica, pedido, prece

Assente; sentar-se, apoiar-se, firmar-se

Minuete; antiga dança de passo simples e vagaroso

Mister; cargo ou atividade profissional, artista, arte

 Agouro: Mau presságio)

 

A primeira foi em uma missa cantada. Coube ao pequeno o ficar com uma tocha, e ao companheiro o turíbulo ao pé do altar.

Por infelicidade a vizinha do compadre, a quem o menino prometera curar, sem pensar no que fazia colocou-se perto do altar junto aos dois. Assim que a avistou, o novo sacristão disse algumas palavras a seu companheiro, dando-lhe de olho para a mulher. Daí a pouco colocaram-se os dois disfarçadamente em distância conveniente, e de maneira tal que ela ficasse pouco mais ou menos com um deles atrás e outro adiante. Começaram então os dois uma obra meritória: enquanto um, tendo enchido o turíbulo de incenso, e balançando-o convenientemente, fazia com que os rolos de fumaça que se desprendiam fossem bater de cheio na cara da pobre mulher, o outro com a tocha  despeja - va-lhe sobre as costas da mantilha a cada passo plastradas de cera derretida, olhando disfarçado para o altar. A pobre mulher exasperou-se, e disse-lhes não sabemos o quê

— Estamos te curando, respondeu o menino tranquilamente.

Vendo que não tirava partido, quis a devota mudar de lugar e sair, porém, o aperto era tão grande que o não pôde fazer, e teve de aturar o suplício até o fim. Acabada a festa, dirigiu-se ao mestre-de-cerimônias, e fez uma enorme queixa, que custou aos dois uma tremenda sarabanda. Pouco, porém, se importaram com isso, uma vez que tinham realizado o seu plano. (...)

 ALMEIDA Manuel Antônio de. Memórias de um Sargento de Milícias. “Mudança de Vida”

 

1.    De acordo com o texto, o que levou o menino a se manter na igreja?

      2.Quais foram os reais motivos que o levaram a ser sacristão?

      3.Que argumentos ele usou para convencer o padrinho a esse respeito?

      4.Assim como em “O Noviço”, de Martins Pena, também escrito no século

 

      XIX, a obra “Memórias de um Sargento de Milícias”, aborda questões ligadas à ausência de valores morais. Selecione um trecho do texto que represente uma situação amoral e comente sobre ela.

Relembre:

Período simples: é formado a partir de um único verbo, ou seja, construído por uma oração.

Período Composto: possui mais de uma oração, portanto construído por mais de um verbo. Devido ao modo como as orações articulam-se nesse tipo de período, elas podem ser chamadas de orações coordenadas e orações subordinadas.

5. Releia o primeiro parágrafo e retire dele alguns exemplos de períodos compostos.

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